segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Pra Depois

Última postagem da minha pequena série "REENCONTRO".
Não sei dizer se é a que mais gosto, mas está cotada entre as "mais mais".





"Pra depois

Guardar tudo pra um futuro que nunca chega. 
Guardar o dinheiro pra uma casa que nunca chega, pra uma viagem que nunca é feita, guardar o tempo de se divertir pra trabalhar esperando uma bonança que não vem, guardar o afeto pra um grande amor que promete, guardar os planos pra hora que o homem aparecer, economizar na dedicação, na escarafunchamento da loucura, deixar as coisas se deteriorarem pra cuidar depois, quando algum próximo aparecer, aí cuidar, no imediatismo do amor, que vai, novamente, dar com os burros n'água, por que sempre dá, se jogar, de joelheiras, querer, mas só um pouquinho, querer, mas não agora, querer o impossível que nunca realiza e nos deixa com a sensação de falta, constante, falência múltipla do amor, morte por sufocamento, viver economicamente, sem riscos nem apostas, com a suposta sensação confortável de que até você, só chega a parte boa da vida."


Antonia Pellegrino
www.escritorassuicidas.com.br



Escrevi algumas coisas nos últimos dias, reencontrei mais outras que escrevi já há algum tempo e pretendo disponibilizar aqui em breve.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Eterno Retorno

Adoro muito esse texto, espero que alguém tenha disposição para lê-lo! 
Para quem gosta, aproveite! Para quem ainda não conhece, aproveite! 



"O eterno retorno é uma idéia misteriosa, e Nietzsche, com essa idéia colocou muitos filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?

O mito do eterno retorno nos diz, por negação, que a vida que vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor, não tem o menor sentido. Essa vida não deve ser considerada mais importante do que uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV, que não alterou em nada a face do mundo, embora trezentos mil negros tenham encontrado nela a morte através de indescritíveis suplícios. (...)

(...) Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia de eterno retorno é o mais pesado dos fardos.
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.

Mas, na verdade, será atroz o peso e a bela a leveza?

...O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.

Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.

Então, o que escolher? O peso ou a leveza?

Foi a pergunta que Parmênides fez a si mesmo no século VI antes de Cristo. Segundo ele, o universo está dividido em duplas de contrários: a luz e a obscuridade, o grosso e o fino, o quente e o frio, o ser e o não-ser. Ele considerava que um dos pólos da contradição é positivo (o claro, o quente, o fino, o ser), o outro, o negativo. Essa divisão em pólos positivo e negativo pode nos parecer de uma facilidade pueril. Menos em um dos casos: o que é positivo, o peso ou a leveza?

Parmênides respondia: o leve é positivo, o pesado negativo. Teria ou não razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições.
(...)"



Texto:
" A Insustentável Leveza do Ser" - Milan Kundera - Primeira parte: A Leveza e O Peso - Trechos extraídos das páginas 9, 10 e 11.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Reencontro... "METADE"

"Andei" encontrando alguns "escritos" que eu gosto muito e queria muito que fossem meus, mas não são. 
Quero "(a)mostrá-los" para que as pessoas que passam de vez em quando por aqui e ainda não os conhecem, passem a conhecê-los.
Aqui vai o primeiro, muito famoso...





Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que triste
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Movimento



Encontrei um pequeno poema, provavelmente inacabado, mas gostei de "revê-lo"!
Compartilho aqui, então, o "movimento"...




E tudo caminha mesmo sem sentir
Mesmo sem sentido
E tudo caindo
Mas ali está o caminho

Sempre me surpreendo
Com a capacidade de renovação
Da vida
Da minha vida

Tudo em movimento
Me sinto por dentro
Movimento a vida
Movimento a minha vida



Possivelmente escrito em 03/07/2007.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Seguindo o fluxo...

Odeio ser clichê, mas algumas coisas merecem ser compartilhadas...
E como não estou ainda muito disposta a publicar aqui meus últimos escritos (ainda preciso preparar minha mente para aceitá-los on line...rs), vou seguir o fluxo do dia e publicar o vídeo do famoso discurso de Steve Jobs.
Só digo (ou melhor, peço!) uma coisa: saibam "pegar" as palavras e usá-las com sabedoria. De nada adianta um grande "poder" se você não souber utilizá-lo. 
Sabendo interpretar e adaptar o que ali foi dito, podemos conseguir um grande aprendizado para qualquer coisa em nossa vida.
É isso.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=66f2yP7ehDs

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

3 - VERSOS



Finalizando minha "pequena sessão" de "Tabacaria" do Fernando Pessoa, deixo aqui um último pedacinho desse poema que adoro...


"(...)Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.(...)"